“Se não fossem as eólicas, o Nordeste estaria enfrentando racionamento de energia”
A Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) publicou no dia 04 de maio seu boletim anual sobre a atual situaçao das energias dos ventos no Brasil. Os números são animadores. A eólica, uma fonte renovável e não-poluente, cresce consistentemente nos últimos anos, e hoje representa 7% da energia instalada no Brasil. O país já colhe os frutos desse investimento. Segundo Elbia Gannoum, Presidente executiva da ABEEólica, foi graças à energia gerada pelos ventos que a região Nordeste do país, que sofre com forte seca, não precisou decretar racionamento de energia. ÉPOCA conversou com Elbia, que apresentou um balanço sobre os números divulgados.
ÉPOCA – O relatório divulgado nesta quinta mostra que, em 2016, o Brasil instalou 81 usinas, com 2 GW de potência. Qual o balanço que podemos fazer desses números? Eles estão acima ou abaixo do esperado?
Elbia Gannoum – Os números estão dentro do esperado. De 2009 pra cá, a média de contratação foi de 2,1 GW por ano. Não surpreende porque, quando falamos de infraestrutura, o planejamento nos permite saber o que vai acontecer. Agora, alguns números nos deixam felizes. Por exemplo, em 2012, o Brasil era a 15ª economia em capacidade instalada de eólica. Aumentamos essa capacidade de ano a ano e, em 2016, chegamos à 9ª posição. Hoje nós somos a nona economia do mundo em capacidade de eólica. É um número que nos deixa feliz, isso surpreendeu um pouco.
ÉPOCA – Considerando o potencial do Brasil e a trajetória do energia eólica no país, estamos atingindo todo o nosso potencial? Ou ainda falta muito a ser feito?
Elbia Gannoum – Houve um relativo retrocesso por conta da economia. Mas a energia eólica já desempenha um papel muito importante para o país. Nossa participação da capacidade instalada hoje é 7% da matriz energética nacional. Em termos de geração, atingimos patamares superiores. Tivemos um recorde nacional em que alcançamos uma geração de 15% da energia consumida em todo o país, no dia 2 de outubro. Isso é um indicador importante. O Brasil, nos últimos anos, não discute mais escassez de energia e risco de suprimento. Não fossem as eólicas, poderíamos estar enfrentando o racionamento de energia, principalmente no Nordeste. O próprio governo confirma essa informação. A energia eólica se tornou fundamental no sistema. E é um recurso limpo, renovável e altamente competitivo.
ÉPOCA – O retrocesso, imagino, é a falta de leilão de energia em 2016, já que o governo cancelou uma contratação de energia eólica. Qual o impacto que essa mudança de política pode causar no desenvolvimento da indústria eólica brasileira?
Elbia Gannoum – Não foi uma mudança de política, foi uma questão pontual, que refletia uma conjuntura. Mas agora o governo está dando o direcionamento que fará novos leilões para contratar energia eólica. Claro, tem muita coisa para melhorar, mas houve uma sinalização positiva do governo.
ÉPOCA – Ainda há críticas de que eólica não conseguiria suprir a demanda porque depende do clima. A eólica está mais competitiva em relação a outras fontes?
Elbia Gannoum – A fonte eólica, como provem de recursos da natureza, é variável. Isso não é um defeito, não é um problema. È uma característica da fonte renovável. Toda fonte renovável é assim. O Brasil precisa aprender a lidar com essas variações. É preciso ter uma matriz diversificada. As fontes renováveis são variáveis, mas elas tambem têm uma caracteristica interessante que é de sazonabilidade. Quando falta uma, tem outra. Faltou chuva, tem vento. Isso é um benefício que o Brasil pode aproveitar e usar para construir uma matriz futura com grande participação de fontes renováveis. Uma matriz que também terá um pouco de energias fósseis, como um mecanismo de segurança do sistema, mas com uma grande participação das renováveis.
Fonte: Abeeólica